Quando um pai lê com seu filho, não está só “cumprindo um livro”. Está ajudando esse filho a organizar pensamento, expandir vocabulário e criar imagens mentais mais ricas do que qualquer vídeo de 15 segundos. A leitura em voz alta, ou compartilhada, treina foco, memória e capacidade de acompanhar uma narrativa mais longa — algo cada vez mais raro num mundo de notificações.

Além disso, os livros oferecem experiências que a vida real nem sempre consegue proporcionar: outros países, épocas, conflitos, dilemas morais. Em família, isso vira um laboratório seguro de emoções e escolhas. Ler junto é, no fundo, dizer: “o que você pensa e sente sobre essa história me interessa”. É um gesto simples que comunica afeto, confiança e curiosidade genuína pelo mundo interno do seu filho.

Quando terminamos um capítulo e seguimos a vida, o livro se fecha também dentro da cabeça da criança. As atividades e perguntas de conversa funcionam como uma segunda abertura: elas ajudam a transformar o que foi lido em algo pensado, sentido e elaborado. Em vez de “gostou do livro?”, entram perguntas como “com qual personagem você se parece mais?” ou “o que você teria feito no lugar dele?”.

Esse tipo de conversa fortalece a autonomia intelectual e emocional do seu filho: ele aprende a argumentar, discordar, sustentar uma opinião, ouvir outra. Para o pai, é uma chance rara de enxergar o que se passa por trás das respostas rápidas do dia a dia. As atividades não são prova nem lição de casa: são pretextos para um encontro mais profundo entre pai e filho, a partir da mesma história.

O problema não é a existência das telas, mas o desequilíbrio. Horas seguidas de estímulos rápidos acostumam o cérebro a buscar recompensa imediata o tempo todo, o que pode afetar sono, humor, atenção e até a tolerância ao tédio — ingrediente essencial para criatividade. Em muitas famílias, isso aparece como dificuldade de concentração, irritação quando o aparelho é tirado e brigas constantes pelo “só mais cinco minutos”.

Criar ilhas de tempo sem tela, como o momento fixo de leitura em dupla, ajuda a recalibrar esse equilíbrio. Não é um combate contra a tecnologia, e sim um limite saudável: aqui a gente lê, aqui a conversa é nossa, aqui o celular não entra. Ao repetir esse gesto semana após semana, pai e filho constroem um espaço protegido que não depende de notificações — mas que, aos poucos, se torna algo que ambos esperam e valorizam.